Texto de Cristiano Santos
Viajar nunca esteve tão na moda. Além do status digital que rende cliques e likes (vide a famosa #tbt no Instagram que, brincam os humoristas, nada mais é do que a repetição das fotos da única viagem internacional que fizemos!), esse deslocamento da realidade, mesmo que por alguns dias, é viciante. Mal nos recuperamos da envergadura da classe econômica e já começamos a pensar no próximo check-in.
E em tempos de oversharing (misturar palavras de outros idiomas também confere status, desde os anos 80) na França e na Itália, outros hot spots surgem de tempos em tempos como os prediletos de determinados grupos de turistas. A Cidade do Cabo, lá na pontinha mais ao sul da África do Sul, é um deles, há pelo menos 10 anos.
Mas foi só recentemente, provavelmente pela alta do dólar (por lá, a moeda americana também é bem valorizada), que uma das cidades mais visitadas do continente africano surgiu com onipresença em pacotes de turismo, sites, revistas, blogs e redes sociais (quem aí não viu algum influenciador circulando por lá nos últimos meses?). Até intercâmbio de curso de inglês entrou na rota dos brasileiros (e árabes).
Neste roteiro, um pouco dos clichês turísticos e algumas percepções (bem pessoais) para quem tem interesse em visitar a Cidade do Cabo.
1) Leve roupas para frio e calor, independente da época do ano (parece óbvio, mas já soube de cada história). No verão, os dias ensolarados podem reservar noites com vento geladinho. No inverno, os dias congelantes podem surpreender com tardes encaloradas. Se puder escolher, vá na temporada de calor, para encontrar a cidade mais fervida. Ela tem 4 milhões de habitantes, mas com tamanha segregação racial (assunto que não entra num texto de turismo, né?), muitas vezes parece um grande bairro (pelo menos as regiões mais turísticas).
2) Com a globalização do abacate, dos sucos prensados e do cupcake, não se preocupe com a alimentação. A Cidade do Cabo tem restaurantes estrelados (aqueles com espumas, estrelas e afins) e cafés/restaurantes em cada esquina que servem saladas, pizzas e hambúrgueres de ótima qualidade a preços justos. Com forte influência indiana e asiática, não deixe de se jogar nas opções da área. Ah, e nem precisa provar carne de jacaré porque os sul-africanos acham isso uó.
No site da Cape Town Mag tem várias matérias sobre a gastronomia local, além de um ótimo guia do que fazer. O Eat Out conta com review de inúmeros estabelecimentos. Se for da turma dos preguiçosos, pode escolher algum restaurante do Waterfront – a área turística mais badalada da África do Sul (beeeem cara e sem graça, diga-se de passagem, talvez pelo excesso – não reclame – de turistas).
3) O pôr do sol na Cidade do Cabo é um dos momentos mais interessantes do passeio. Pode sair de Waterfront quase no fim do dia a caminho dos bairros Green Point e Sea Point. Faça o trajeto a pé (não chega a cansar, ande sem pressa, fazendo fotos, curtindo o ar praiano, é delicioso). Vai cruzar com a belíssima população local caminhando, andando de bicicleta, com as criancinhas, os cachorros, os surfistas, skatistas… Ou então pegue um Uber (táxi nem pensar) até o topo da Signal Hill, leve um vinho e aproveite o espetáculo.
Na Table Mountain também rola um pôr do sol incrível, mas fique atento às infos do tempo no site oficial Quase sempre o ideal é subí-la pela manhã, para evitar a chamada “toalha da mesa”, uma camada de nuvem linda de ver quando se está embaixo, mas nada legal de encarar lá no alto. Se o almoço à beira-mar se estender, nas praias de Clifton e Camps Bay o entardecer não tem erro.
4) Turista que caminha o dia todo quase nunca consegue curtir a noite como se não houvesse amanhã. Ou uma coisa ou outra, a gente sabe. Mas a Cidade do Cabo tem badalação noturna que vale algumas circuladas. A Long Street, bem no Centro, é a mais famosa, mas reúne um tipo de visitante mais disposto a beber até cair do que aproveitar com calma a África do Sul.
Ali perto, na Bree Street, ficam alguns dos bares/restaurantes mais legais da região. Se você estiver na cidade na primeira quinta-feira do mês aproveite a First Thursday, uma noite em que turistas e moradores se misturam de forma mais descontraída. Também é o único momento em que se pode beber na rua. Os sul-africanos são super simpáticos e, vocês sabem, basta falar que é brasileiro para garantir o sorriso. Com 11 línguas oficiais, o inglês (british, please!) é a mais falada, principalmente com os estrangeiros.
5) Pra fechar: prove as delícias gastronômicas da feirinha OZCF Market Day que reúne todo sábado, das 9h às 14h, produtores locais bem perto do Waterfront; se você curte arte contemporânea e arquitetura não deixe de entrar no Zeitz Mocaa, considerado a Tate Modern deles.
Para conhecer mais sobre a escravidão, o museu Slave Lodge não é fácil, mas necessário; se sua viagem for entre novembro e abril, os concertos de verão no Kirstenbosch National Botanical Garden são ótimos. Leve bebidas e comidas e faça um piquenique; para manter a gripe longe, experimente o shot de gengibre, limão e maçã à venda no supermercado Woolworths; compre especiarias em algum mercadinho no bairro de Bo-Kaap ou coma a samosa, um pastelzinho apimentado, que eles amam; e não deixe para amanhã o vinho que você pode provar hoje.