“Quem é você?” Um papo com Satyaprem, mestre espiritual que promove retiro em Florianópolis

Num mundo de gurus vendáveis e fórmulas prontas sobre como ser mais feliz, a proposta de Satyaprem se apresenta de forma diferente. Nos Satsangs (encontros com a verdade, em sânscrito) promovidos por ele pelo mundo – o próximo ocorre em Florianópolis entre 15 e 17 de novembro, mais infos abaixo – a ideia é olhar profundamente para a questão “Quem é você?”. A partir daí um debate é gerado e o gaúcho, que estudou jornalismo antes de encontrar Osho e viajar o mundo trabalhando como terapeuta, mostra o caminho que já trilhou pra chegar na resposta. O “fim da busca”, que para ele se deu em 2000, é compartilhado nas palestras, retiros e nos livros publicados.

“Não estou aqui para ensinar ninguém a nada, estou aqui pra convidar você a ver quem você é. E no caso você vai descobrir que você não é o que pensa que é. Esse é o grande mote do nosso trabalho”, comenta na entrevista abaixo.

Direto, questionador, provocativo e avesso à identificação de guru, Satyaprem respondeu por telefone as perguntas a seguir.

Fotos divulgação

Como começou a sua busca por autoconhecimento?
Foi no final dos anos 70. Eu estava na Famecos (Faculdade de Comunicação da PUCRS), estávamos na ditadura e eu atuava politicamente. Tínhamos problemas políticos, digamos assim. Nesse meio tempo, entre não saber o que fazer e estar fazendo coisas que não estavam levando a lugar nenhum, apareceu naturalmente o interesse pela meditação. Primeiro surgiu a psicologia, a terapia gestalt e logo eu me interessei pela meditação. Aí aparecem os processos de meditação do mestre Osho, que na época se chamava Rajneesh, comecei a meditar e foi tudo muito  rápido. Em 1982, fui para os Estados Unidos vê-lo e dali a minha vida mudou completamente. Morei entre Europa, Índia e EUA trabalhando como terapeuta. Em 2000, voltando a morar no Brasil, encontrei o que estava buscando e passei a uma nova fase de trabalho, onde a terapia foi deixada de lado e passamos a investigar a natureza de quem nós somos. Aí começamos os satsangs. 

O método Satsang (em sânscrito, encontro com a verdade) foi desenvolvido por você?
De certa forma, tem a minha mão nisso, é a minha presença que estimula a investigação. Mas é algo muito antigo, na Índia há cinco mil anos já se fazia isso. É algo que renasce a cada tempo, hoje muitas pessoas no mundo fazem, que é uma maneira de despertar as pessoas investigando o conteúdo da mente e indo além dela. O começo e o fim é o questionamento “quem é você”.   


E as pessoas que participam do satsang saem sabendo ou isso é um processo que começa com o satsang? 
É obvio que eu não faria nada que não fosse despertador para as pessoas. Mas depende de cada um compreender todo o processo, tem pessoas que não querem compreender, tem pessoas que não podem compreender. Tudo que a pessoa precisa para a pessoa ver, é estimulado. A resposta não depende de mim. 

Nunca vimos tantos guias, livros e coaches tentando ensinar as pessoas a serem mais felizes. Por outro lado, vivemos um tempo de muito sofrimento e depressão. As pessoas estão buscando do jeito errado?
Elas estão equivocadas no seu direcionamento porque há uma quantidade de informações equivocadas que levam as pessoas a permanecem perdidas. A maioria das coisas que se encontra em uma livraria não serve exatamente para nada, principalmente quando trazem à tona esses assuntos.  Meu trabalho não tem a ver com felicidade e nem com infelicidade. É algo para despertar você para quem você é. A abundância de superficialidade é inacreditável no mundo de hoje, o que eu estou fazendo é muito diferente.


O despertar pode te levar a uma vida mais leve?
Sim, assim como pode levar você a ter que enfrentar certas coisas que você considera como pesadas. O despertar acaba com os teus sonhos. Ou seja, aquilo que você sonhava, tudo que você imaginava pode cair por terra e nesse sentido pode ser pesado. 

E como descobrir quem nós verdadeiramente somos?
Primeiramente perguntando “quem é você?”, tentando descobrir o que a mente gera como resposta e indo além dessas respostas a um lugar que a mente não toca. Isso sim estaria no processo que faremos nesse intensivo. Para as pessoas descobrirem isso tem que participar do processo. Não é algo que em uma pergunta vai resolver. Depende de muitas coisas, você vai ter que olhar de diferentes maneiras, compreender o que a mente fala, o que é a mente. O que é observado, como aprender a observar, indo além das noções conceituais disso, que são mentais. 

Hoje a gente também vive uma grande ansiedade pelo que virá. Parece que nunca estamos no momento presente…
As pessoas enquanto identificadas com a mente delas vivem em relação ao passado ou ao futuro. Ou seja, uma grande ansiedade em relação às coisas que virão, um grande medo, e culpa em relação as coisas que passaram, porque  você provavelmente já fez coisas equivocadas. Mas a consciência sempre está no presente, a mente é que nunca está no presente. Então, é descobrir uma maneira de se  “desidentificar” com a mente para que comece a viver aquilo que é nativo, natural a você. Se você se perguntar “quem sou eu?”, tudo que a mente diz não tem nada a ver com o momento presente. As pessoas na sua grande maioria não pensam que se identifica com a identidade, elas são a identidade. Então elas são o que elas pensam. E, no caso, você vai descobrir que você não é o que pensa que é. Esse é o grande mote do nosso trabalho. 


A meditação ou o satsang consegue te colocar em um lugar de observador, de observar os fenômenos da mente?
A ideia não é o que você vai observar e nem criar expectativas imaginárias do que você vai observar. A vida vai te apresentar coisas distintas com as quais você vai ter que lidar do ponto de vista da observação e não do ponto de vista da identidade. Então por exemplo se alguém te chama de idiota, do ponto de vista da identidade, você vai tentar arguir o contrário, vai tentar provar que você não é um idiota. Para você contradizer alguém que chamou você de idiota você aceita a proposta dele de que você é idiota e isso já é a prova de que você é um idiota. Quando você não tenta arguir, você examina do ponto de vista da observação: essa pessoa tem como ver quem você é? Quando você vê quem você é, você pode ver que ninguém pode ver quem você é. Então tudo que eles dizem fala deles mesmo, aí muda completamente a maneira de se relacionar com os eventos da vida e com as pessoas.  A mente não tem interesse em você, a mente só tem interesse nela. Tem muita gente morrendo porque a mente enlouqueceu elas. 

Também vivemos um tempo de muito ódio e destruição…
No caso do Brasil é falta de educação mesmo, o Brasil é muito ignorante. Classe média ignorante, elite ignorante. Pessoas que aprenderam apenas a executar uma ação, um trabalho, sem noção de nada, nem de ética, de moral, nem de consciência. Então, ocorre o que está ocorrendo, barbaridades nunca vistas.

A ética também passa pelo processo do Satsang?
Passa, mas de uma maneira distinta. Não existem fixações éticas previstas pela mente, isso vai depender da tua consciência. Ou seja, o que vai dirigir você em relação ao que é certo o errado vai ser a tua consciência e não uma lista de coisas que devem ou não ser feitas por alguem que não é você. Dependendo do momento histórico, certas coisas são certas de fazer e outras não, hoje por exemplo não é ético envenenar o que vamos comer, mas moralmente as pessoas estão aceitando isso.  A discussão é bem mais profunda, e a resposta só vem através da consciência, realmente. Quem decide não vai ser a cultura e nem a tua sociedade, vai ser a tua consciência.

Nem um guru?
No Brasil, a gente transforma tudo em coisas banais. Até ser um guru ou coisa parecida tornou-se banal, tem até “guru de informática”. A palavra guru, que eu nem quero que seja associada a mim, é uma coisa completamente diferente, eu não estou aqui para ensinar ninguém a nada, estou aqui pra convidar você a ver quem você é. E aí tu vive a tua vida de acordo com a tua própria consciência e não de acordo comigo. Guru não é uma pessoa, a palavra guru significa “aquilo que transforma a escuridão em luz”. A ideia de um mestre guru é algo muito antigo na Índia e é um produto muito vendável, é apenas um conselheiro em certo sentido. Nesse sentido eu não sou um conselheiro eu sou aquela luz que vai dissipar a escuridão na tua vida, sem aconselhamento. Eu não vou dizer o que você vai fazer da sua vida, você vai fazer o que você bem entender… Só vou questionar algum parâmetros pelos quais você se guia e que não te levam a si mesmo, te levam ao sofrimento. 

Você também faz os satsangs na Europa, nos EUA e pela América Latica. A busca das pessoas independente do lugar é a mesma?
Sim. Mas na Europa, Espanha e Itália, a resposta é muito maior, muito mais profunda. Aqui no Brasil foi criado um ambiente negativo recentmente e as pessoas estão duvidosas. A culpa é das próprias pessoas que compram coisas muito fáceis, muito superficiais e depois se frustram. Meu trabalho não é para muita gente, não é para todos, não é um produto vendável, é uma coisa para quem quer mesmo, para quem quer despertar e não virar um novo hindu. Não estou fazendo com que as pessoas se vistam de hindu, ou comecem a cantar mantras. A proposta é completamente diferente. 

Serviço
Satsang introdutório
13 de novembro, às 19h30, Lagoa da Conceição

Satsang intensivo
15 a 17 de novembro, Lagoa da Conceição
(endereço informado no momento da inscrição).

Informações e inscrições
48 9994 99739
borani5@gmail.com



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Laura Coutinho

Escrito por Laura Coutinho

Laura Coutinho é jornalista com mestrado em Relações Internacionais. Já morou em Porto Alegre, Londres e Lisboa e é apaixonada por viagens, gastronomia, cultura e inovação. Trabalhou mais de 15 anos no Grupo RBS como repórter, editora, colunista e assinou coluna social durante um ano no Jornal Notícias do Dia. Hoje, concilia a produção de conteúdo em site próprio com o trabalho de relações públicas.

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