Iniciativa super bacana, o Iguatemi Talks promoveu três dias de papos sobre moda e comportamento no JK Iguatemi, em São Paulo. Com participação de celebridades do mainstream, como as influentes Camila Coutinho e Sabrina Sato, e personalidades não tão conhecidas do público, mas super respeitadas no segmento, como Tim Blanks, editor do site referência Business of Fashion e Rony Meisler, CEO do Grupo Reserva, os papos deram um norte do que pensam alguns dos profissionais mais interessantes do mercado.
Estive por lá à convite do Iguatemi Florianópolis e elenquei os temas mais abordados. Os cinco tópicos não são novidades, mas eles começam a aparecer com mais força através de exemplos práticos. E o fato de serem discutidos dentro de um grande grupo como o Iguatemi sinaliza o quanto chegaram para ficar.
Vamos a eles:
Genderless
“O sistema da moda pode tornar a gente muito infeliz, moda também é o dom de iludir. Mas é preciso uma dupla leitura. A moda também pode ajudar a propagar outras formas de vida e de sexualidade”, disse a jornalista e consultora Erika Palomino no painel Genderless, que reuniu ainda Paulo Borges, diretor criativo do SPFW, André Namitala, estilista e empresário e Rafael Varandas, empresário e diretor criativo.
Para quem acha que o conceito ainda é utópico, Rafael e André representam duas marcas nascidas com esse DNA: a carioca Handred e a paulistana Cotton Project.
“É comum casais entrarem na loja para escolher uma roupa juntos , peças que serão compartilhadas pelos dois”, contou André.
Se por um lado ainda persiste o estereótipo da brasileira com roupas justas e sexy, por outro muitas estão preferindo modelagens amplos que não evidenciam o corpo. E aí, a roupa entra cada vez mais como uma tela em branco para as ideias que carregamos, bem no contexto genderless, que em geral propõe shapes menos marcados para elas.
” Quando uma personalidade como Jaden Smith (ator filho de Will Smith que no ano passado lançou uma marca de roupas genderless) desafia as regras sociais e usa uma saia faz com que muita gente fale sobre isso” – provocou Erika.
Social Fashion
Você se veste de quê? Uma das questões cruciais de uma indústria pouco sustentável social e ambientalmente e que aos poucos tenta se reinventar influencia cada vez mais a cabeça do consumidor no momento da compra. O tema orientou o painel Social Fashion (Eco-Era). Chiara Gadaleta, consultora de moda e sustentabilidade, Rony Meisler, CEO da Reserva, e André Carvalhal, cofundador da Malha e diretor criativo da Ahlma, falaram sobre questões que devem pautar cada vez mais a indústria moda.
“Cada vez mais temos que nos preocupar onde a roupa estava antes de a gente vestir e para onde ela vai depois”, disse Chiara, fundadora do projeto Eco-Era, que além de oferecer consultoria para marcas, virou coluna na Vogue, prêmio e agora deve ganhar um portal.
Outra questão levantada pelos debatedores foi a da lógica do preço irreal:
– Quem cobra muito barato, faz muito, sem critério e geralmente produz fora do Brasil. Enquanto que o caro pode ser o justo, o que desenvolve e produz dento do país – alertou Rony.
Na Ahlma, marca de Carvalhal que tem apoio financeiro da Reserva, a ideia é não gerar impacto extra na natureza. Sobras de tecidos e algodão orgânico são usados na produção.
– Aquela camiseta todo furadinha que a gente vê nas lojas foi feita de um tecido comprado inteiro e depois furado. Na Ahlma, a gente já busca um tecido com aquela aparência de desgastado.
Chiara lembrou do apelo da estilista inglesa Viviane Westwood para a diminuição na produção e finalizou: “66% de todo tecido produzido vai parar em aterros. Deveríamos ficar um ano sem produzir, usando só o excedente”.
A necessidade de encontrar soluções frente à crise econômica e ambiental, provoca ainda outra onda na indústria: a do retorno da importância do estilista e do diretor criativo, necessários quando o assunto é reaproveitar com design e estilo .
Era da informação
Bastante impulsionado pela farta distribuição de informação disponível na Internet, o consumidor não quer só comprar, ele quer participar.
“Quando informações e filmes como The True Cost (documentário que aborda o impacto da indústria da moda) estão na Internet todo mundo passa a saber o que está acontecendo”, disse Carvalhal.
O consumidor está pedindo transparência, ética e verdade e um exemplo da força da opinião publica é o shift da gigante sueca H&M que depois de ter sido denunciada, hoje é referência em sustentabilidade (em março, a marca lançou uma coleção de festa 100% sutentável feita a partir de plástico encontrado no oceano).
– Abrimos todos os balanços da marca: incluindo custos de da produção, folha de funcionários e impostos. Abrimos também quem são os nossos fornecedores. Tem gente que nos chama de loucos, acham que estamos abrindo a nossa fórmula da Coca-Cola, mas acreditamos que quanto mais esses fornecedores trabalharem melhor para todos. Inclusive financiamos maquinário para eles, é nosso interesse que eles cresçam – compartilhou Rony contrariando uma mentalidade competitiva que parece cada vez mais old school.
Moda mais “cabeça” e política
Mais consciência social e política. Um exemplo dos últimos dias? Gucci anunciando se tornar fur-free e banindo a pele animal de suas coleções a partir de 2018.
“Não gostei tanto das roupas das últimas coleções, mas adorei as ideias. Achei positivo porque vi raiva na passarela e a sensação de que a moda deve mudar. De forma geral tenho gostado mais das ideias. Vem aí uma moda mais thoughthfull (pensativa)”, comentou o jornalista Tim Blanks, uma das figuras mais respeitadas do mundo na cobertura de moda.
O posicionamento das marcas frente a questões sociais influencia diretamente o consumidor, que quando comprar isto ou aquilo também faz uma opção política. Como disse Rony Meisler: o dinheiro é o novo voto.
Influenciadoras, a segunda onda
Incontornáveis, os digital influencers rapidamente se tornaram players poderosos no mundo da moda, influenciando na decisão de compra de seus seguidores. Mas a segunda onda vem tocada pelas questões anteriores aqui citada pede mais verdade e realidade.
Camila Coutinho (2,3 milhões de seguidores), entrevistada no Iguatemi Talks pela jornalista Paula Merlo, da Glamour, contou o quanto seu nome cresceu em relação ao Garotas Estúpidas e no quanto busca equilibrar o business sem perder a essência de garota espontânea, a “amiga” das seguidoras.
Lolita Hannud (142 mil seguidores), titular a frente de marca Lolitta, e Patricia Bonaldi (1,3 milhões) , da marca homônimas, duas estilistas, empreendedoras que também se tornaram influenciadoras falaram sobre como usam as redes para contar suas rotinas e, claro, inflar as vendas. Vestidos usados por elas e mostrados em imagens no Instagram somem das araras na velocidade do som. Mesmo assim é importante, na nova onda, ter em mente: “não são marcas falando com pessoas, mas pessoas falando com pessoas”conclui Jorge Grimberg, jornalista que entrevistou a dupla e que também outro craque quando assunto é pensar moda.