Entrar num voo lotado e desembarcar em algum ponto desconhecido do globo, arrastando a sua malinha tranquilamente. A cena que até pouco tempo atrás poderia ser frequente para alguns privilegiados ficou mais rara e não há previsão exata de retorno. A pandemia de Covid19 atingiu um dos maiores desejos dos nossos tempos: as viagens. O turismo que depende da mesma mobilidade humana que espalha doenças deve ficar sujeito a restrições mais rigorosas e duradouras. Segundo especialistas, é provável que sofra mais do que quase qualquer outra atividade econômica.
Pois é. Nunca viajamos tanto como nos últimos anos. A tendência deve ser freada pelo menos até que uma vacina apareça. Além do medo do contágio, há o fator econômico já que a maioria das famílias sofreu perdas financeiras e o desemprego se aprofunda. Em 7 de maio, a Organização Mundial de Turismo das Nações Unidas estimou que os ganhos com o turismo internacional podem cair 80% este ano em relação aos US$1,7 milhão do ano passado, e que 120 milhões de empregos poderão ser perdidos.
Mas, se as viagens internacionais devem demorar mais a retornar, podemos esperar um aumento nas road trips, que privilegiam o turismo regional. De fato, essa busca por destinos acessíveis de carro e próximos aos locais de origens já pode ser observada. E a boa noticia é que Santa Catarina é repleta de diferentes belezas e atrativos, muitos deles ainda a serem explorados pela maioria.
“Neste momento é possível perceber que há um crescimento na procura por destinos em que o deslocamento é menor, principalmente dentro do Estado. Além disso, observamos o desejo de informação das pessoas para saberem se os locais que realizam um protocolo correto de saúde”, compartilha Leandro Ferrari, presidente da Agencia de Desenvolvimento do Turismo de Santa Catarina (Santur).
Viajar para perto, priorizar a segurança e a saúde e preferir viagens mais próximas à natureza são algumas das tendências que já começaram a ser observar. Listamos aqui seis delas:
1- Viagens na natureza
Enquanto atividades em ambientes fechados são tidas por viajantes como as menos seguras, as viagens na natureza crescem e ganham a preferência na retomada gradual do turismo.
Em entrevista ao NY Times em matéria sobre o futuro das viagens, James Thornton, presidente-executivo da operadora de viagens Intrepid Travel, conta que “se 2020 for mesmo um ano o qual passamos muito tempo dentro de casa, 2021 será um ano de viver ao ar livre e ser ativo, com muita busca por viagens em meio à natureza e viagens centradas em torno de atividades ao ar livre como o ciclismo, trilhas e meditação”.
Nos Estados Unidos, por exemplo, há uma previsão de maior visitação aos parques nacionais, que já são destinos super procurados por moradores e turistas. O Brasil poderia seguir o exemplo e preparar melhor seus parques, belíssimos em diversidade, mas em geral pouco preparados para atrair e receber visitantes.
O camping para os mais aventureiros e o glamping, uma espécie de camping com mais comodidade, também tendem a crescer.
Em Santa Catarina, a busca por hospedagens em locais afastados dos centros urbanos, confirma a tendência. Não por acaso, a Serra Catarinense, onde boa parte das pousadas fica no interior dos municípios, é um dos pontos mais procurados desde o outono. Para muitos de nós, presos em apartamentos, nada mais atrativo atualmente do que alguns dias de caminhada, sol e ar puro perto da natureza.
“Estamos todos ávidos por um espaço ao ar livre para sair um pouco do isolamento com segurança”, compartilha Ivan Cascaes, proprietário do Serra do Rio do Rastro Eco Resort, que tem visto a procura pelo hotel aumentar.
2 – Menos turismo urbano
Evitar locais conhecidos pela aglomeração nas ruas e nos pontos turísticos deve ser outra medida adotada por muitos viajantes. Você se imagina caminhando em breve pela Rambla em Barcelona; Times Square, em Nova York, ou próximo à Fontana de Trevi, em Roma?
Viagens para grandes centros urbanos ou para locais muito turísticos tendem a diminuir no primeiro momento do retorno, ou até que encontremos uma vacina. Brian Chesky, executivo-chefe da Airbnb, declarou em entrevista recente: “de forma geral, as viagens serão menos urbanas”.
Reforçando a impressão, uma pesquisa da Destination Analysts revelou que mais da metade dos americanos planejam evitar destinos lotados quando voltarem a viajar.
Se por um lado viajantes devem evitar esses destinos, por outro, muitos moradores desses locais super visitados aprovam a mudança. A Itália, por exemplo foi foco de uma matéria recente do NYT. Além dos problemas sociais e econômicos trazidos pela pandemia, a Covid19 também revelou um país com apego exagerado pelo turismo, o que prejudica os residentes, os empurrando para fora dos centros, além de atrapalhar criatividade, a diversidade econômica, o empreendedorismo e a autêntica vida italiana, completamente alterada.
Em cidades como Veneza, já há um movimento dos moradores para limitar o número de turistas pós-pandemia. Na cidade das gôndolas, enquanto a população residente diminuiu caindo de 80 mil para 50 mil entre 1950 e 2019, o número de turistas subiu de 1 para 30 milhões por ano no mesmo período. E, o que se questiona, é que muito do dinheiro gasto em Veneza, não fica na cidade já que boa parte dos hotéis e restaurantes são de investidores de fora. São discussões como essas que estão sendo impulsionadas pela pandemia e que podem transformar nossa lista de desejos de viagem.
Sobre locais com turismo excessivo, a editora de guias de viagem Fodor divulga anualmente uma “não-lista” anual de destinos que as pessoas devem evitar a visita. A lista deste ano apresenta a Ilha de Páscoa e o complexo de templos cambojanos de Angkor Wat.
3 – Mais turismo regional
Com a preferência por viagens a destinos próximos que possam ser acessíveis de carro (pesquisas indicam viagens de até 300 km), o turismo regional deve florescer. O nosso Estado, tradicionalmente, nunca foi muito visitado pelos próprios catarinenses. A Serra, por exemplo, por muitos anos, recebeu mais gaúchos, paulistas e paranaenses. Agora, parece que o cenário começa a mudar.
“Há um aumento no Brasil na procura pelo turismo regional em aproximadamente 30% em comparação ao período no ano passado segundo estudo da Travel Gatex“, revela Leandro Ferrari, presidente da Santur.
O desafio atual da Santur está relacionado justamente a fortalecer o turismo doméstico, trabalhando neste processo de retomada das atividades.
“De acordo com a sazonalidade, as cidades que são mais procuradas no Estado, em uma época mais quente, ficam no litoral, como Florianópolis, Balneário Camboriú, Bombinhas, Piçarras e Imbituba. No período do inverno, a Serra Catarinense é mais atrativa e a gente nota um aumento considerável no fluxo de pessoas em Urupema, Urubici, São Joaquim e Bom Retiro”, compartilha Leandro.
Uma colcha de retalhos com culturas e belezas diversas, Santa Catarina guarda destinos bastante atrativos em todas as suas regiões: além dos mais de 500 km de extensão de praia e da Serra bela e gelada, há preciosidade como Pomerode, no Vale do Itajaí, Treze Tílias, no Oeste, Corupá, no Norte, e Praia Grande, com seus cânions, no Sul, só para citar algumas cidades com grande potencial turístico.