Uma das melhores novidades gastronômicas de 2023, o Rocca, em Jurerê, nasceu da união de dois jovens chefs: Tiago Soar, de 26 anos, e Arthur Viveiros, de 27. A dupla se encontrou na cozinha do Ludum, em Florianóplis, depois de estudar gastronomia e rodar por grandes restaurantes da Europa e EUA.
Tiago, manezinho, se formou em Ciências Gastronômicas na Università degli Studi di Scienze Gastronomiche, na Cidade de Brá, Itália, e trabalhou em países como Dinamarca e Alemanha. Já Arthur, carioca, se formou em Ciência e Tecnologia da Alimentação, e morou em NY, onde passou por restaurantes clássicos da cidade como o italiano La Villetta. Ao voltar para o Brasil, trabalhou no Café e Restaurante Lamas, o mais antigo do país, fundado em 1874 no Rio.
Dessa mistura nasceram os sabores do Rocca, que oscila entre clássicos muito bem executados e autoralidades que surpreendem. Apesar de servir gastronomia de alta qualidade, o Rocca é despretensioso e tem serviço amigável. O ambiente é pequeno e intimista, com mesas internas e externas, essas bem convidativas em noites de verão. E foi o acolhedor revestimento de pedra do salão que inspirou o nome do restaurante (rocca é pedra em italiano).
Começamos pelos drinks, super bem feitos pelo chef Arthur: negroni da casa e o gin tônica de maça. Uma dica: não pule o couvert, uma focaccia de fermentação natural acompanhada de uma cremosa e muito saborosa manteiga de mel.
Entre as entradas, pedimos o Corn Ribs, a “costelinha de milho” com maionese de manteiga, parmesão e pó de cebolete. Mas o destaque entre as entradas para mim foi a Alface Baby Grelhada, com molho de amendoim, cenoura fermentada, coalhada, quinoa crocante e brotos frescos. Uma salada muito gostosa e cheia de sabores surpreendentes. Impossível voltar lá e não repeti-la.
Para os pratos principais, escolhemos o Fideuá de Polvo, receita típica espanhola que lembra a paella, mas que no lugar do arroz leva macarrão. No prato, ovas de capelin, maionese de alho confit, limão tostado e botos de coentro. Todos os gostos básicos do paladar estavam lá: o ácido, o doce, o amargo e o salgado. Nunca provei um polvo tão macio, talvez porque o método de cocção tenha sido não a habitual panela de pressão, mas o vapor, onde o molusco cozinhou lentamente por três horas.
Na mesma linha de frutos do mar com ares espanhois, o Arroz de Camarão e Porco se utiliza da técnica do socarrat, com arroz bomba caramelizado. A famosa e irresistível rapinha do fundo da panela feita à mestria e combinada com edamame, maionese de páprica, picles de cebola roxa, coentro e ovas. Espetacular!
Mas foi na sobremesas que recebemos o prato mais surpreende da noite: Iogurte, azeite e meles, feito com coalhada seca, compota de limão, crocante de folhado, favos de mel e sorvete de iogurte. Moderada no dulçor, uma sobremesa delicada refrescante e lindamente empratada.
Mas não paramos ai e ainda provamos a Bavaroise de chocolate com farofa de nibs de cacau, calda de cáscara e sorvete de cumaru. Deliciosa, super bem executada (a bavaroise fica entre a mousse e o pudim) e com sabores mais conhecidos que agradam a todos.
Surpreendente uma dupla tão jovem entregar um resultado tão consistente, mas sem deixar de lado o frescor e a coragem típicos da juventude. Vale muito colocar o Rocca no seu próximo roteiro gastronômico.