Nova era: uma reflexão sobre consumo, comportamento e novos hábitos pós-pandemia – Laura Coutinho

Texto de Fernanda Afonso*

Uma mudança de hábito pode variar amplamente, devido às circunstâncias, mas, em média, um novo comportamento se torna automático entre 18 e 66 dias, segundo Charles Duhigg autor do livro O Poder do Hábito. Diante a mudança dramática que estamos experimentando no estilo de vida, provável que haja uma mudança igualmente excessiva na preferência e percepção das marcas.

Os consumidores, mais informados, agora também serão mais exigentes. E não se trata só de produtos e serviços, porque não é mais sobre interesses individuais, é sobre necessidades coletivas. Haverá uma atenção especial a marcas que continuarão com boas ações pós Covid-19 no mesmo nível de cobrança às que não olharem com mais cuidado para as pautas sociais.

A forma de consumo e a origem dos produtos fica ainda mais em evidência. O movimento “compre do pequeno”, em apoio ao comércio local, ganha força. Os benefícios de contar com alimentos e recursos regionais – em vez de produtos que exigem cadeias de suprimentos longas e distantes – já amplamente defendidos do ponto de vista da sustentabilidade, sobe a um outro patamar, o da auto-suficiência e do poder. É sobre como a independência nos leva a uma posição em que, em vez de apenas cruzarmos os dedos esperando que os lideres do governo façam um bom trabalho nos protegendo, podemos manter alguma influência sobre o nosso próprio destino.

O volume de compras também está em jogo. A reflexão sobre acúmulo e consumo desenfreado já era assunto, mas, agora, quem estoca e compra mais do que precisa passa a trajar o rótulo de egoísta e vil, algo nada atraente de se ostentar. O que impacta na comunicação de muitas marcas. Adiciona-se a esta lista a confiança. O que torna difícil (claro que não impossível, sempre dependendo das circunstâncias), o lançamento de novas marcas, já que a mentalidade é de manutenção.

Aqui vale ressaltar a vantagem das empresas que priorizam relacionamento e construíram uma base emocional sólida junto à sua rede. Alô!, empresas que estavam mais preocupadas em construir uma rede grande e não uma rede forte! Seus seguidores estão te apoiando neste instante? Pergunta essencial para darmos novos passos em relação à comunicação futura das marcas. “Esse é um momento de aumentar o seu banco emocional com o consumidor, que você pode sacar lá na frente, possivelmente com maiores rendimentos do que uma compra forçada agora” (a frase é do Rafael Martins, do Share, achei excelente).

Estamos comprando 650% mais fermento, mais utensílios de cozinha e acessando expressivamente mais os sites de culinária. O bem-estar individual está em alta e os olhares, já que não conseguem enxergar um futuro próximo, estão atentos à saúde (mindfulness, yoga, treinos fitness, alimentação saudável). A estética, se não acompanhada de boa disposição física e mental, nunca fez sentido, mas sempre vendeu. Agora, pode ser que as coisas mudem de lugar. Fungos, vírus e bactérias podem ser transmitidos por ítens usados por mais de uma pessoa. A gente sempre soube. Mas a gente nunca deu bola. Quem hoje consegue pensar em compartilhar o pincel da maquiagem no salão de beleza, os halteres da academia e os equipamentos da clínica de estética?

Os mais velhos, se antes tinham restrições com a tecnologia, foram impelidos a descobrir os benefícios de receber o alimento na porta de casa. Quantas empresas fazem sua comunicação voltada para este público? Quanto tempo eles ainda levarão pra voltarem às lojas físicas? E será que voltarão da mesma forma? O home office passou, para alguns, a ser uma possibilidade real e futura de trabalho, já que muitas empresas perceberam que podem ganhar tempo e diminuir custos com a adoção dessa prática.

Além do uso de máscaras e das mãos embriagadas de álcool, o que mais irá mudar na nossa rotina? Nosso templo passará a ser o ar livre. Os abraços valerão mais que likes. E eu espero, sinceramente, que esta crise fomente nossas capacidades de generosidade e de enxergar além de nós mesmos e de nossos próprios interesses. Se nós conseguimos nos mobilizar em tempos de escassez, qual será nosso poder de mobilização e mudança em tempos de abundância?

*Fernanda trabalha com marketing sustentável e colaborativo. Criadora de conteúdo digital e afetivo em @digitaleafetivo

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Laura Coutinho

Escrito por Laura Coutinho

Laura Coutinho é jornalista com mestrado em Relações Internacionais. Já morou em Porto Alegre, Londres e Lisboa e é apaixonada por viagens, gastronomia, cultura e inovação. Trabalhou mais de 15 anos no Grupo RBS como repórter, editora, colunista e assinou coluna social durante um ano no Jornal Notícias do Dia. Hoje, concilia a produção de conteúdo em site próprio com o trabalho de relações públicas.

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