Muito além da beleza: Pedro Andrade fala sobre viagens, cultura, política e a recente paixão por SC

Com charme, inteligência e aqueles ternos bem-cortados (inspirem-se meninos!) Pedro Andrade vai conquistando o mundo. Além da bem-sucedida carreira na TV americana, o carioca comanda o programa de viagem de maior audiência da América Latina (Pedro Pelo Mundo, GNT, rumo à quarta temporada), é autor de um best seller sobre Nova York que será relançado pela Companhia das Letras em versão atualizada,  e escreve outro livro, esse sobre suas andanças pelo mundo. Sem esquecer da necessária presença no Manhattan Connection onde representa uma lufada de ar fresco entre ideias que precisam de atualização.

O ariano de 39 anos e alma de globetrotter não se resume ao belo par de olhos verdes:  estiloso, inteligente, articulado, gentil e viajado, Pedro excede e muito seus atributos fisicos. E talvez por isso, venha se transformando em uma marca desejada que representa não apenas beleza e estilo, mas conteúdo.

Rosto de marcas que escolhe a dedo, como VR e Johnny Walker Blue Label, o carioca é também parceiro da  Portobello, um acerto inquestionável da marca catarinense. Foi em uma presença no lançamento da coleção Home&You, em Florianópolis,  que o apresentador conversou comigo. Generoso, em apenas 12 minutos encheu o gravador do celular de conteúdo: “entrevista boa é quando a gente se entrega e resto do mundo apaga”, disse antes de subir ao palco causando frisson entre arquitetos e designers.  Abaixo, trechos do papo.

Portobello, divulgação

Novos livros
Inicio do ano que vem eu lanço uma atualização do livro sobre Nova York pela Companhia das Letras e também estou escrevendo outro livro sobre as viagens e sobre as minhas andanças pelo mundo. Estamos expandindo: não vai ser só NY.

Quarta temporada de Pedro pelo Mundo 
Estou literalmente no meio das filmagens. Daqui vou direto para a Colômbia. Acabei de voltar da Etiópia, Irã, Nepal, Bali, Londres, Croácia e Miami. 

O sucesso do programa
Estou super feliz porque a gente nunca sabe se o público vai abraçar mesmo e hoje ele é o programa de viagem com maior audiência na América Latina. Apesar ser um programa autoral, as estrelas do programa são as vozes que a gente bota. É um programa sobre pessoas, sobre histórias, não sobre turismo. A gente não vende a melhor guacamole do México ou mostra a melhor pizza da Itália. Acho que o que diferencia o Pedro pelo Mundo é exatamente a gente ter uma plataforma para falar sobre direitos humanos, mudança climática, racismo, homofobia no Oriente Médio, direitos das mulheres. Podemos fazer  graça, eu posso fazer minha piadas e a gente pode se divertir, mas tem um espaço para falar com o líder da comunidade LGBT na Rússia, com um repórter foragido, um refugiado sírio ou norte-coreano.  O programa mostra que você não precisa fazer uma escolha, mas pode ter os dois. 

Pedro em Medellin, na Colômbia, onde gravou recentemente a quarta temporada de Pedro Pelo Mundo. Instagram, reprodução

Movimentos nacionalistas e o programa
Não concordo com esse movimento nacionalista – e acho que a liberdade de eu poder falar o que eu sinto faz parte da graça do programa. Acho que é importante a gente levar em consideração o que tá acontecendo, isso é incontestável.  Foi Marie Le Pen (líder da extrema-direita francesa), foi na Itália, foi aqui no Brasil, foi nos EUA, então é um assunto muito relevante.  Mas eu sou por natureza um cara otimista então acredito que a vida, não só a política, é um pêndulo. Mas preferia não ter que falar sobre esses assuntos nessa altura. O movimento neonazista é muito forte na Croácia, onde eu gravei exatamente na época em que o país estava quase ganhando a Copa do Mundo. Então ver as nuances, ver esses tons de cinza de um país e entender que nenhum lugar é perfeito, é muito interessante para o programa.

Conexão com arquitetura
Tenho uma paixão absurda, achei que ia fazer arquitetura quando era criança, mas não segui porque eu tinha a ideia errada de que para fazer arquitetura você tinha que ser bom em matemática. Eu era péssimo em matemática e geometria e repeti em duas matérias: religião e educação física (risos).  Muita gente me desencorajou de fazer arquitetura, minha vida tomou outro rumo e eu faço o que eu amo, mas essa paixão existe há muito tempo. Minhas viagens me mostraram como você entende muito do povos olhando para a arquitetura.  Hoje em dia dou um valor ímpar para arquitetura, acho que a gente frequentemente passa batido por isso – e arquitetura é tudo, não é só prédio. A gente vai contar a história da humanidade através disso.

Portobello, divulgação

Parceria com a Portobello 
Acho que minha relação com a Portobello deu tão certo porque a gente se identifica. A empresa tá sempre olhando pro mundo: azulejos de Athos Bulcão ou marroquinos, o minimalismo da arquitetura japonesa. Também  tenho esse olhar curioso. Quando vou pra esses países, busco entender como aquele povo vive. Porque as pessoas comem barata e aranha no Camboja? O programa nunca é um besteirol, então tenho que explicar: o Camboja acabou de passar por um genocídio, para não morrer de fome eles precisaram dar um jeito. Acho que essas histórias explicam a gastronomia, a arquitetura e um monte de coisas do lugar.

Relação com SC
Minha família é toda do norte e nordeste: minha avó é do Maranhão.  meu avô é de Natal. Sou carioca mas sempre tive uma relação muito forte com norte e nordeste e sempre fui apaixonado por SP. A minha paixão por Santa Catarina tem mais a ver com os residentes desse lugar – alguns dos meus melhores amigos vieram daqui, eu sempre gostei da comida, sempre gostei do sotaque, da estética, sempre me atraiu. Então pra mim a essa altura do campeonato estar descobrindo e me apaixonando por Florianópolis é muito gostoso, hoje em dia eu falo sobre Florianópolis para as pessoas do mundo inteiro. Muita gente diz: “preciso ir pra Bali, quero ir para praia na Tailândia” e eu falo: ” se você está atrás de praia, por que perder 30 horas da sua vida quando se tem as praias que vocês tem aqui, as pessoas, a culinária? Uma das melhores refeições da minha vida nos últimos anos foi aqui, quando me levaram para comer polvo, não existe nada igual.

Você passa cerca de um mês por ano no avião. Como lidar?
Eu não reclamo,  o programa é minha paixão, saiu da minha cabeça. No início as pessoas não acreditavam, diziam que ninguém ia comprar isso, que era pesado e muito jornalístico, e hoje é o sucesso que é.  Então é muito gostoso  apesar mudança de fuso, das 30 horas de voo. De três em três dias você muda de horário, de comida, de língua, de moeda. As pessoas me perguntam: “o que você vai fazer no Natal?” e eu falo: “vou tomar banho no meu banheiro e vou dormir na minha cama” (risos).

Você se vê transformado em uma marca?
Tomara!  Eu não tenho essa coisa muito extravagante, não tenho desejos de ter um barco, um triplex. Não tenho desejo de coisas financeiras, mas tenho muito tesão quando vejo que fiz alguma coisa que mudou a vida de alguém, que abriu os olhos ou mudou a opinião de alguém. Uma da ajudantes da minha avó me contou que se identificou com uma egípcia que no programa que fiz no país contou que, quando o filho entrou para o Estado Islâmico, sentiu como se tivesse morrido. Ela viu semelhança porque também se sentiu assim quando o filho foi preso no Rio de Janeiro. Ela começou a chorar e disse que nunca pensou que se identificaria com alguém de burca e que acredita no islã. Estou elaborando uma palestra cujo tema é: o que nos une é muito mais forte do que aquilo que nos separa. Eu gostaria de virar uma marca sim, porque acho que é uma mensagem que a gente precisa agora. 

Dos cerca de 60 países que você já visitou quais são aqueles que todos deveriam visitar?
Japão, México e Brasil. O Brasil é muito pouco valorizado. 

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Laura Coutinho

Escrito por Laura Coutinho

Laura Coutinho é jornalista com mestrado em Relações Internacionais. Já morou em Porto Alegre, Londres e Lisboa e é apaixonada por viagens, gastronomia, cultura e inovação. Trabalhou mais de 15 anos no Grupo RBS como repórter, editora, colunista e assinou coluna social durante um ano no Jornal Notícias do Dia. Hoje, concilia a produção de conteúdo em site próprio com o trabalho de relações públicas.

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