Texto de Cristiano Santos
@santoscristiano/contatocristianos@gmail.com
Nas livrarias, tanto as virtuais quanto as físicas, pilhas e pilhas de livros são ofertadas vendendo dicas de empreendedorismo. Tem para todos os gostos, todas as áreas e todos os sonhos. Incluindo alguns que vendem milagres que não migram das páginas para a vida real.
O empresário Facundo Guerra, que participou da última edição da Semana Balaclava, em Floripa, não gosta de ser chamado de O Rei da Noite de São Paulo (assim mesmo, em caixa alta, só para irritá-lo, caso ele venha a ler este texto), mas ganhou reconhecimento e destaque midiático na última década transformando espaços até então impensáveis em propostas de entretenimento interessantíssimas. Saiu de sua cabeça – e de suas equipes – lugares como o Vegas (quem aí teve a chance de frequentar pelo menos uma noite do clubinho sabe do que estamos falando), o Z Carniceria, o Lions Nightclub ou o Riviera, entre outras grifes da badalação paulista.
Recentemente, Facundo lançou a sua versão de como estas histórias surgiram. Em Empreendedorismo para Subversivos – Um Guia Para Abrir Seu Negócio no Pós-Capitalismo (Editora Planeta Estratégia), ele não apenas revela as dores e as delícias desde que deixou o emprego como executivo até se tornar o que é hoje, como faz o leitor viajar por uma deliciosa autobiografia. Talvez não esteja diretamente nas dicas de Facundo a parte mais proveitosa de sua publicação. O humor cáustico é a grande linha de condução de suas aventuras.
Há passagens hilárias (muitas delas constrangedoras, como não?) da vivência dentro do mundo corporativo. Difícil não se identificar com a descrição de uma oficina motivacional (“são degradantes, pesticidas da alma, imbecilizantes, cruéis”). Ou então o que pensa sobre liderança: “ninguém é dono de nada. Prefiro que me chamem de qualquer impropério a chefe: quem tem chefe é traficante”.
Em quase 240 páginas, Facundo descreve minuciosamente seus pensamentos cheios de informação. Discorre em um texto leve (mas cheio de dados que se piscar o leitor perde) sobre vários assuntos que estão pipocando nestes tempos de ultra conexão como os hábitos de consumo que têm assustado as grandes corporações, envelhecidas, desgastadas (“o futuro, tal como foi no passado, será feito à mão” ou “consumir será, cada vez mais, um ato político, talvez mais efetivo que o próprio voto nas democracias representativas”). Ao conhecer seu currículo acadêmico descobrimos que o argentino criado em São Paulo tem uma boa estrada em busca de conhecimento. Está na orelha do livro: além de empreendedor, é engenheiro de alimentos, jornalista internacional e político e mestre e doutor em Ciência Política pela PUC. Grande parte de sua verborragia intelectual vem daí. Ele ri das próprias desgraças e coloca o dedo na ferida no universo do qual está inserido até o pescoço.
Facundo não dá a receita do sucesso (tem definição pior?), mas aponta, por meio das experiências no dia a dia, como age diante das dúvidas (“boa parte das soluções para meus problemas encontrei quando os procurei em lugares completamente inusitados: a ideia para a iluminação de uma pista de dança veio de um experimento do século XIX de um museu de ciências em Glasgow”). Tem até um momento sobre os intraempreendedores, ou como empreender de dentro de uma corporação.
Empreendedorismo para Subversivos é uma avalanche de boas tiradas, de frases de efeito e revelações que poderão apontar uma luz nesse túnel de incertezas. Para terminar, só mais uma: “empreender requer um tipo muito específico de physique du rôle, e em diversas passagens deixei claro que para um empreendedor de verdade empreender nem sequer é uma opção. Está mais no campo do transtorno, da identidade, de um imperativo que não tem nome. Definitivamente não é para todos”. A publicação tem feito sucesso e aparecido nas listas dos mais vendidos. Não à toa. Quem segue Facundo no Instagram (@facundoguerra) tem acompanhado a divertida molecagem dele e da filha Pia que, ao descuido dos vendedores, colocam o livro em um local de destaque nas livrarias. Enfim, rir de tudo ainda é o melhor negócio.
Empreendedorismo para Subversivos –
Um Guia Para Abrir Seu Negócio no Pós-Capitalismo
(Editora Planeta Estratégia)
Preço médio: R$ 30