Home office sem pirar: 7 dicas da neurociência, psicologia e espiritualidade para trabalhar melhor em casa – Laura Coutinho

Do computador para a cozinha para preparar um café, um rolê nas redes sociais e uma passada pelo noticiário antes de tentar retomar o projeto de trabalho num looping sem fim. Quem mais tem assistido a esse filme? O trabalho remoto, adotado para atender às recomendações das autoridades de saúde e manter o distanciamento, é um aprendizado. E tem sido desafiador render no home office mesmo para quem já trabalhava em casa – e falo por mim mesma. Mas alguns ensinamentos da neurociência, da psicologia e da espiritualidade podem ajudar bastante nesse período.

“Tivemos que voltar para dentro de nossas casas e de nós mesmo. Estamos todos aprendendo um jeito novo de ser e de trabalhar. É importante nos enxergarmos como aprendizes e com gentileza”, ensina a psicóloga, coach e mestre Gladys Milenna Prado

Construir as próprias estratégias pode ser mais interessante do que seguir receitas prontas, que nem sempre servem para todos. A chave, portanto, é o auto-conhecimento. 

“O ideal seria criar uma dinâmica própria, de dentro para fora. Esse recolhimento trouxe a incrível oportunidade para uma auto-observação mais sutil e refinada”, indica Carolina Young, mentora e terapeuta.

Mas, se por um lado, a dica de ouro é se observar e aí montar estratégias próprias, descobertas da neurociência sobre o funcionamento do cérebro também podem nos ajudar com aspectos práticos. 

“Para dar uma força para o seu cérebro melhorar sua atenção – item primordial para o bom desempenho cognitivo – elimine todos os “distratores” possíveis. Estudos mostram que a mera presença visual do celular, por exemplo, pode roubar até metade da sua atenção, mesmo que você nem mexa nele, explica Larissa Zeggio, psicóloga, mestre e doutora em Neurociências. 

Conversei com as três profissionais, Gladys, Carolina e Larissa, e elas compartilharam boas dicas para produzir em casa sem descuidar da saúde mental. Vamos a elas? 

Seja gentil com você 

“Se perceba como um aprendiz e seja gentil consigo. Não se coloque nesse momento a exigência de ser um expert em trabalhar em casa se isso é novidade para você. Lembre-se que todos estamos aprendendo um jeito novo de trabalhar e de viver”, indica a psicóloga e coach Gladys Milenna Prado. 

Não ajuda se comparar com os colegas ou amigos.

“Nem sempre as mesmas técnicas de produtividade funcionam para todos”, adverte a profissional. 

 Aprenda sobre si mesmo

Aproveite esse momento de introspecção para aumentar o conhecimento que você tem de si mesmo.

“O principalmente aprendizado é como você funciona. E aí veja, por exemplo, se fazer uma lista de afazeres te ajuda ou te atrapalha. Se essa lista vai ser feita no inicio da semana ou ela é diária”, explica Gladys Prado.

Na mesma linha, a mentora e terapeuta Carolina Young, sugere que o recolhimento traz oportunidade para uma auto-observação mais sutil e refinada. “Aquela rotina cheia de compromissos na rua tornava mas difícil uma parada para observar como é de verdade o nosso desempenho durante o dia”, diz Carol. 

“Ao invés de marcar hora para trabalhar com medo de se dispersar, a ideia é observar qual é o período do dia estamos mais criativas , com mais vitalidade e qual o período do dia que estamos mais recolhidas, introspectivas. E assim criar uma dinâmica própria. De dentro pra fora”, indica a terapeuta. 

Nesse sentido, a meditação, sendo uma ferramenta incrível de autoconhecimento, pode ser uma grande aliada.

“Quando feita com consistência e frequência, a meditação promove o autoconhecimento, uma maior propriedade sobre si mesmo, e esse exercício vai ajudar muito na auto-observação”, explica Gladys. 

Atenção ao começo do dia 

“Comece bem seu dia. Talvez meditar ou relaxar um pouco antes de começar o trabalho seja uma forma de começar a se reconhecer. Faca algumas respirações, preste atenção no respirar e em com você está. Tranquilo, agitado, atento, ansioso. Tem pessoas que agem e uma forma muito regular, outras oscilam mais. Isso é muito singular. O principal aprendizado é saber como é o nosso jeito pra aí entender quais dessas muitas dicas de com organizar o trabalho em casa servem ou não”, aconselha Gladys.

Dê “contexto” ao local de trabalho

Conforme Larissa, especialista em neurociência, nosso cérebro e suas delicadas redes de conexões foram programadas para serem ligadas (e nos fazerem agir) de acordo com o ambiente em que estamos.

“Aprendemos a fazer associações que não só inspiram nosso comportamento em um ambiente, mas, muitas vezes, só podem ser acessadas nesse ambiente em particular. É o efeito da aprendizagem-dependente-de-contexto. Uma estratégia que pode colaborar com a capacidade produtiva em casa é criar um espaço separado das atividades domésticas”. 

“Se você não tiver o privilégio de ter um escritório em casa, pode usar sua mesa da sala, mas leve elementos que você já estava acostumado a usar no trabalho – como sua caneca, agenda em papel, se vestir da mesma forma – e, se possível, crie uma separação física nesse ambiente (em último caso até um lençol pendurado pode servir de divisória). Tente trabalhar apenas nesse ambiente, e não fazer nenhum outro tipo de atividade nesse seu espaço. Isso pode ajudar seu cérebro a ativar o “modo trabalho” e melhorar sua produtividade”, ensina Larissa Zeggio. 

Gerencie o estresse 

O grande vilão da história é mesmo o estresse, que tem uma estreita relação com a liberação de um hormônio chamado cortisol.

“O cortisol não é ruim em si, na verdade ele é o responsável por boa parte da sua produtividade. Mas a gente precisa que o cortisol seja liberado numa quantidade “ideal”. Se tiver pouco cortisol, sua atenção, motivação e desempenho serão baixos, num estado parecido com tédio. Se tiver muito cortisol, o nível de excitação é tão alto que perdemos novamente a atenção e a capacidade cognitiva, e seu desempenho cai drasticamente. O ideal é que tenhamos um estresse moderado, que nos faça sair do tédio, mas não paralisar com a ansiedade”, explica a neurocientista.  

Foto: Paulinho Sefton

Para lidar com isso, primeiro lembre que está tudo bem se sentir ansioso, preocupado ou estressado nesse momento.

“Use estratégias para reduzir um pouco esse estresse. Pode ser meditar, assistir um filme, fazer exercício físico em casa, ouvir uma música, tomar um banho demorado. Entenda apenas que se você ficar muito tempo em uma dessas tarefas relaxantes de uma vez só, seu nível de cortisol cai muito e aí a produtividade vai embora também. Prefira várias pequenas pausas programadas ao longo do dia após pequenos blocos de trabalho (de 1 hora, por exemplo). Ao retornar da pausa, reveja sua lista de tarefas e foque em um uma ou duas tarefas para a próxima hora. E repita o processo”, diz Larissa Zeggio.

Evite distrações

Apesar do mito de que pessoas produtivas são multitarefas, a neurociência ensina que, se o foco é produtividade, nosso cérebro só consegue fazer uma coisa de cada vez. Quanto mais tarefas (ou distrações) ao mesmo tempo, pior o desempenho nelas. 

“Para dar uma força para o seu cérebro melhorar sua atenção elimine todos os “distratores” possíveis quando for trabalhar em casa: use um fone de ouvido para reduzir barulhos externos, direcione sua visão para um ambiente livre de estímulos (o lençol pendurado ou virar a mesa para a parede trazem diferenças incríveis), tente organizar as demais atividades da casa ou orientar as pessoas que não pode ser interrompido na próxima hora (trabalhe com blocos de uma hora e pausas para dar atenção a outras demandas) e, o mais importante, coloque seu celular bem longe de você. Estudos mostram que a mera presença visual do celular pode roubar até metade da sua atenção, mesmo que você nem mexa nele”, explica Larissa Zeggio. 

Respeite seus limites 

A última dica é de ouro, unanimidade entre as entrevistadas:

“Entenda que esse é um período de adaptações e tudo bem se sua produtividade diminuir temporariamente agora. Respeite seu corpo, sua mente e seus limites. Isso é essencial para o estresse e, aos poucos, vamos aprendendo a nos organizar”, conclui Larissa Zeggio. 

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Laura Coutinho

Escrito por Laura Coutinho

Laura Coutinho é jornalista com mestrado em Relações Internacionais. Já morou em Porto Alegre, Londres e Lisboa e é apaixonada por viagens, gastronomia, cultura e inovação. Trabalhou mais de 15 anos no Grupo RBS como repórter, editora, colunista e assinou coluna social durante um ano no Jornal Notícias do Dia. Hoje, concilia a produção de conteúdo em site próprio com o trabalho de relações públicas.

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