Entrevista: uma conversa com o guru Sri Prem Baba sobre propósito, relacionamento e espiritualidade – Laura Coutinho

Autor do best-seller Propósito, o líder espiritual paulistano Sri Prem Baba tem ganhado relevância e milhares de seguidores falando pelo mundo sobre relacionamento, propósito e motivando pessoas a investirem em autoconhecimento.

No domingo (26), Prem Baba, que coordena dois ashrams –  em Alto Paraíso, Goiás, e na Índia, chega a Florianópolis para abordar sobre a importância da sustentabilidade no seminário Água e Paz, da programação do  Seminário Brasileiro de Recursos Hídricos, no Centrosul. A palestra gratuita, aberta 700 participantes fora do congresso, já está esgotada e conta com uma longa lista de espera. 

Antes de embarcar para o Sul, (no sábado, 25, ele participa do Congresso Internacional da Felicidade, em Curitiba),  o guru das celebridades conversou com o site em entrevista exclusiva. Confira:

Qual é a maior queixa das pessoas que o procuram? O que elas estão buscando?
São muitas angústias das pessoas, mas tenho visto que por trás da maioria delas estão os problemas de relacionamento e principalmente a falta de consciência do propósito. A questão da prosperidade financeira também é uma queixa, mas ela se relaciona com a inconsciência a respeito do propósito e dos dons e talentos. E essa falta de consciência acaba, muitas vezes, gerando problemas de relacionamento, porque a pessoa fica insatisfeita consigo mesma, não tem autoconfiança suficiente para sustentar uma relação saudável. Às vezes ocorre o contrário: os problemas de relacionamento (quer seja sexual, familiar ou social) afastam a pessoa da realização do seu propósito de vida. Considero essas duas esferas – propósito e relacionamento – dois pilares centrais da experiência humana, juntamente com a espiritualidade. Se por alguma razão você se sente insatisfeito ou incompleto em alguma dessas esferas da vida, todas as outras áreas inevitavelmente são afetadas, incluindo a saúde.

É possível manter a paz de espírito no dia a dia das cidades?
Apesar de ser difícil, é possível. Eu passo bastante tempo em grandes cidades, como São Paulo, e acabo tendo que transmutar muita coisa que passa por mim. A verdade é que os desafios independem do lugar onde você está, mas se você vive num grande centro urbano, é preciso estar constantemente atento para não aceitar os convites da natureza inferior, pois eles são muitos. Quando menos espera, você está perdido no jogo de acusações, na competição, no medo… Você até inicia bem o dia, mas quando menos espera, cadê você? Foi tomado pela ansiedade, pela tristeza, pela raiva, pela dúvida. O que pode te ajudar nesses momentos em que tudo parece estar dando errado é o cultivo do silêncio e o contato com a beleza, pois são formas de reconexão consigo mesmo. Procure um lugar silencioso, cercado de natureza, de preferência onde você possa ver o céu, e procure ficar quietinho. Esqueça o celular. Feche os olhos e respire profundamente. Procure ampliar sua percepção da beleza, que pode estar na forma de uma árvore, de uma flor ou de um pássaro… Se isso não for possível, apenas encontre um lugar tranquilo, onde você possa ficar só, em silêncio. Relaxe e observe o fluxo da sua respiração. Essa é uma forma de retomar a presença e reestabelecer sua energia nesses momentos de tensão, mas para que haja um maior fortalecimento da presença (o que envolve o desenvolvimento de virtudes como paciência, sabedoria, intuição, atenção e compaixão), sugiro que você se dedique a um trabalho de autoconhecimento e expansão da consciência, pois isso te dará estrutura psicoemocional para lidar melhor com as situações desafiadores do dia a dia e com a densidade energética das grandes cidades.

Relacionamentos afetivos também estão entre os maiores causadores de sofrimentos. Como se relacionar de uma forma construtiva?
Esse é um tema muito profundo. Foi para responder a essa pergunta que escrevi o livro Amar e Ser Livre. Como disse anteriormente, os relacionamentos afetivos são uma das maiores fontes de angústia para as pessoas e essa realidade tem sido assim desde os primórdios da raça humana, por isso transformar a negatividade nas relações é tão difícil quanto mudar a situação do nosso planeta. O que ocorre é que nós, seres humanos, estamos falhando na nossa missão de despertar o amor, que é o propósito maior da nossa existência neste planeta. São milhares de anos de ignorância e ainda estamos engatinhando no que diz respeito ao florescimento das virtudes da alma e do conhecimento da nossa natureza espiritual. Pouco sabemos sobre as dimensões sutis da sexualidade e o poder da energia sexual quando unida ao coração. Nossa sexualidade está contaminada pelo medo e pelo ódio. Nossas mentes estão tomadas por fantasias, o que impossibilita a experiência do prazer e do amor real. Portanto, são muitos os aspectos envolvidos nessa questão, mas posso dizer que, entre os mais importantes, está o cultivo da verdadeira intimidade e da revelação, que é a capacidade de colocar-se diante do outro sem máscaras, despido de defesas, tendo a coragem de ser vulnerável. Para isso se faz necessário haver humildade, autorresponsabilidade, confiança e disposição para conhecer a si mesmo.

Vivemos um momento de profunda crise em diferentes esferas da sociedade. Vemos alguns avanços, mas ainda parece que os retrocessos são mais fortes. Como manter o otimismo no meio de tanta miséria e corrupção?
Talvez a palavra otimismo não seja a mais adequada, pois ela denota um certo grau de afastamento da realidade. Muitas vezes, o otimismo pode ser uma forma de alienação. Diante dessa crise generalizada e de tanta miséria que temos testemunhado, vejo que a única maneira de não nos deixarmos levar pelo desespero e pela falta de esperança é incluindo a espiritualidade em nossas vidas. Precisamos nos abrir para a realidade de que somos seres espirituais vivendo uma experiência material na Terra. Somos entidades em evolução neste plano, o que significa que não estamos aqui de férias, para nos divertir um pouco e fazermos algumas compras no shopping center. Nós estamos aqui para realizar uma meta – nós temos uma missão. Estamos aqui para ampliar a consciência amorosa que é a nossa mais profunda essência. E talvez a virtude mais necessária para esse momento seja a fé – a fé verdadeira, o que não tem nada a ver com crenças emprestadas e fanatismo. Me refiro a uma fé inquebrantável no Mistério da vida, uma certeza de que estamos sendo guiados por algo maior do que nós.

Nossa essência é a mesma, mas nossos propósitos variam. O propósito tem a ver com a personalidade de cada ser humano?
O propósito individual é o programa da alma, o que ela veio fazer neste planeta. Esse programa tem a ver com os dons e talentos que a pessoa tem a oferecer e está em consonância com o propósito maior da existência, que é coletivo e único. O propósito individual pode ou não ter a ver com a personalidade da pessoa e isso depende do grau de alinhamento que ela tem com o propósito da vida. Eu diria que o ideal é que a personalidade esteja alinhada com o propósito pois, dessa forma, a pessoa se sente satisfeita e encaixada onde está. Ela tem um motivo para acordar de manhã e fazer o que precisa ser feito, pois existe algo maior que dá sentido à vida. Mas compreenda que não é a personalidade que define o propósito. Muitas vezes, ela é justamente o que afasta a pessoa do seu propósito de vida, pois é construída a partir de heranças familiares, condicionamentos sociais e de uma série de aspectos psicoemocionais negativos. Isso que conhecemos como personalidade normalmente é um conjunto de máscaras criadas pelo ego para se proteger da dor. E isso, muitas vezes, acaba sendo um bloqueio, um impedimento no caminho da realização do propósito.

Conforme sua crença, o autoconhecimento é a chave para muitas questões que podem levar ao fim do sofrimento. Que ferramentas podem nos ajudar no autoconhecimento sem confundi-lo com a expectativa alheia ou com a voz do próprio ego?
Alguns valores são fundamentais no processo de autoconhecimento, entre eles eu diria que a honestidade e a autorresponsabilidade são os mais importantes. Antes de mais nada é preciso ter a sincera disposição de conhecer a si mesmo, pois esse processo não é fácil. O caminho do autoconhecimento passa por momentos bastante difíceis, verdadeiros desertos, nos quais somos tomados pelo medo, pelo ódio, ceticismo… e muitos outros aspectos da natureza inferior que nos habita. São muitos os eus inferiores, sabotadores da felicidade, que ocupam a nossa mente e, mesmo depois de termos identificado e expulsado esses intrusos, eles tentarão voltar. Serão muitos os momentos em que o ego tentará entrar pela porta dos fundos. E sempre que deixarmos isso acontecer, o sofrimento será inevitável. Sinto que a única maneira de nos mantermos no caminho certo é estar constantemente renovando nossos votos com a luz, com o amor e com a verdade. Isso é possível quando estarmos verdadeiramente cansados do sofrimento.

Sua palestra em Florianópolis é sobre água, paz e sustentabilidade e o projeto Awaken Love, liderado pelo senhor, é comprometido com as 17 Metas Globais de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que incluem, por exemplo, assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos até 2030. Como está vendo o caminho para o cumprimento das metas no Brasil e como todos podem se engajar com os objetivos?
Da nossa parte, precisamos fazer mais esforço para manter a população informada a respeito dessas metas para que, dessa forma, todos possam votar conscientemente nas próximas eleições, escolhendo líderes que estejam engajados nessa causa que é tão crucial para nós todos. O saneamento básico traz muitos benefícios para a população e gera impactos positivos na produtividade do trabalho, na educação das crianças e a garantia de preservação ambiental. Estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), mostra que cada US$ 1 investido em saneamento básico representará, no futuro, a economia de US$ 4,3 nas despesas com saúde.

Há dez anos foi criada uma lei de diretrizes nacionais para o saneamento básico que determina que esse serviço seja universalizado, ou seja, que esteja disponível para todos. Apesar disso, a situação do Brasil nesse sentido continua bem ruim. De acordo com o instituto Trata Brasil, atualmente, 34 milhões de brasileiros não têm acesso à água tratada e mais de 100 milhões não são contemplados com coleta de esgotos. Parece que, no ritmo que andamos, a universalização ocorrerá somente em 2054. Para acontecer em 2030, é necessário que isso se torne prioridade dos governos e que o investimento em saneamento aumente.

Aqueles que puderem se engajar de forma mais objetiva serão muito bem-vindos, mas sinto que cada um pode fazer a sua parte expandindo a própria consciência a respeito do tema e espalhando seu conhecimento da melhor forma possível, lembrando que água é vida. Vivemos neste planeta que é 70% feito de água, o que significa que, para salvarmos a nós mesmos, precisamos salvar a água. Precisamos refletir e resgatar o significado e o valor da água em nossas vidas.

Pra finalizar, poderia deixar uma mensagem para 2018 pra os leitores do site?
Eu oro para que sejamos mais amigos uns dos outros, inclusive daqueles que pensam diferente; e para que tenhamos muita serenidade e lucidez nas eleições.

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Laura Coutinho

Escrito por Laura Coutinho

Laura Coutinho é jornalista com mestrado em Relações Internacionais. Já morou em Porto Alegre, Londres e Lisboa e é apaixonada por viagens, gastronomia, cultura e inovação. Trabalhou mais de 15 anos no Grupo RBS como repórter, editora, colunista e assinou coluna social durante um ano no Jornal Notícias do Dia. Hoje, concilia a produção de conteúdo em site próprio com o trabalho de relações públicas.

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