À distância parece cenografia, mas à medida que vamos entrando na Casa Amarela, entendemos que o universo é de casa verdadeira, com uma dona daquelas caprichosas, que se preocupa com o que vai em cada recanto para que tudo provoque boas-vindas, aconchego e afeto. Cada pedaço é enfeitado com velas, luzinhas, flores, tapetes coloridos. Nada é óbvio ou forçado por ali e o ambiente remete um pouco à casa de vó, com cheiro de pão e chá de maçã, som de pássaros e um convidativo balanço pra ler, com um dos gatos enroscados no pé.
Mas vamos começar do princípio. A semente da Casa Amarela está na Itália, de onde emigrou Ferdinando Bulgarini d’Elci, o Papo, que se instalou na Barra da Lagoa, depois de uma temporada gaudéria. Na praia, a poucos metros do idílico Canal da Barra, Papo construiu há 30 anos uma casa simples, mas muito charmosa e nos moldes das moradas da sua terra natal.
Todos os quartos dão para a varanda, que é o centro de tudo, junto com a cozinha. Cozinheiro habilidoso e anfitrião de primeira, o italiano já imprimiu, faz tempo, naquelas paredes, o dom para receber, herdado e hoje executado com perfeição pelo filho Alessandro Bulgarini Delci, diretor de cena, e a nora, Luciana Andrade, designer. Muitos objetos originais dessa época narram episódios antigos e impregnam a Casa Amarela de história.
O tempo na casa é outro. É preciso se demorar para ver o tanto de sonhos e de belezas que pulsam ali. Por isso, recentemente a morada da família recebeu o batismo de Casa Amarela e passou a receber tanto hóspedes quanto encontros e cursos.
Loft da Casa Amarela
A alma do endereço é Luciana, que montou seu ateliê homônimo na Casa Amarela há seis anos.
“Cresci numa rua de sete mulheres, amigas até hoje. Eu fui aprendendo na casa de cada uma delas aquilo que mais me encantava. Adoro velas, flores, aromas. Amo essa brincadeira de criar sonho. Para mim receber é uma demonstração de afeto e de amor pelo outro. E percebi que a nossa casa era um lugar de sonhos muito pulsantes: eu com o ateliê, o Alê como diretor de cena e o Piero com a Raízes d’Água (leia mais logo baixo). São histórias que mereciam ser mais compartilhadas com quem vem a Florianópolis”, conta Luciana.
Assim surgiu o conceito da Casa Amarela, que reúne todos esses sonhos e também um loft para hospedagem assinado pelas arquitetas Gabriela Dutra e Vanessa Buonomo para acolher um casal de visitantes que queira vivenciar nesse universo tão rico. Super aconchegante, o espaço assinado pelas arquitetas conjuga quarto, banheiro e uma linda mesa para refeições. O mezanino lúdico, com objetos, arte e muitas plantas confere ainda mais charme ao quarto.
Outro dos pontos altos da hospedagem é o café da manhã, com delícias preparadas na vizinhança e compartilhadas em mesa junto ao jardim, na varanda onde se encontram o clima de praia e de fazenda, o passado, o futuro e o artesanal.
Esse espaço, assim como o jardim e o living amplo com uma lareira convidativa, pode também ser cenário de pequenos eventos de arte, gastronomia e autoconhecimento.
Atelier Luciana Andrade
Apaixonada pelo universo das cores, do lúdico e das texturas desde criança, Luciana teve mãe assistente social e avó costureira. Da mistura do cuidado com a doçura e as técnicas manuais surgia a menina de olhos curiosos, mãos habilidosas e ar maternal.
Mais tarde, já formada em Design de Moda, Lu encontrou, ao estudar arte, a união que tanto buscava entre a moda e a decoração. Foi quando começou a produzir belíssimas mantas e almofadas onde mistura diferentes técnicas, como o crochê, as rendas, o bordado e o patchwork, com o tear manual.
“O ateliê surgiu para valorizar o feito à mão, o produtor e a arte locais, a tradição e a história contada de mãe para filha. Acredito muito nessa história contada daqui pra fora. É a gente que tem que valorizar a nossa história ”, defende a designer.
Entre os muitos materiais utilizados nas mantas e almofadas estão itens de reaproveitamento, como as redes de pesca e fios descartados, ressignificados quando trabalhadas em novas propostas contemporâneas.
“O belo está na arte de criar. Colocar no tear manual e dar nova vida, novo significado. Queremos contar essa história, trafegar, levar adiante esse olhar”, compartilha.
Microverdes no jardim
Se o design e a arte dominam a casa, a produção sustentável ocupa seu lugar no jardim. Piero, filho do casal, montou há quatro anos a Raízes d’Água, empresa de microverdes orgânicos. Cozinheiro e ex-estudante de Gastronomia, Piero percebeu entre os chefs a falta de fornecedores de brotos de qualidade e assim investiu na produção baseada no sistema de aquaponia (sistema que junta aquicultura de peixes com sistema de recirculação de água semelhante ao da hidroponia).
Além de muito utilizado para decoração de pratos, os microverdes são considerados superalimentos, já que concentram cerca de 40 vezes mais nutrientes do que o vegetal em estado maduro. A produção do Raízes d’Água escoa para os restaurantes e para uma rede de supermercados da cidade. E, claro, compõem as delícias servidas na Casa Amarela.
Casa Amarela
Espaço de hospedagem e eventos na Barra da Lagoa
Mais informações: @a_casa_amarela_recebe e (48) 99815-8240