* Texto de Lu Moraes e Jana Hoffmann
Os encantos de Recife vão muito além da praia de Boa Viagem. Além da orla que desenha a cidade, a cultura pulsa nos vários museus, centros culturais e instituições artísticas. E são muitos. A arte popular também é prato cheio, além da gastronomia típica, que merece degustação. Em passagem pelo destino a convite do Núcleo Catarinense de Decoração, as arquitetas Ana Paula Ronchi, Juliana Pippi e Suâmi Pedrollo apontam trajetórias imperdíveis de quem fez e faz história em território pernambucano.
Entre as personalidades que habitam Recife, o arquiteto Carlos Augusto Lira, um dos maiores colecionadores de arte popular da América Latina – são 7 mil peças no seu acervo pessoal – é memória viva da cidade. Desde menino sempre se interessou pela boniteza das coisas e passou a colecioná-las ao longo da vida. E para ele não importa se a arte foi elaborada da forma mais primitiva, simples ou sofisticada. O importante é que toque o coração. É numa casa tombada pelo patrimônio histórico, que ele recebe amigos e visitantes interessados em conhecer suas peças de estima.
“Depois de encher sua casa com arte, ele não tinha mais onde acomodar suas obras, o espaço ficou pequeno. Hoje ele tem um local chamado reserva técnica onde as esculturas ficam expostas. Para Carlos, todas têm vida, humor, alegria, tristeza, são belas e combinam entre si. Representações de Anita Malfatti, Cícero Dias, Ariano Suassuna e outros objetos de grande valor. Ele fez sua coleção apenas pela emoção e prazer de admirar a beleza”, conta a arquiteta Suâmi Pedrollo.
A Oficina Cerâmica de Francisco Brennand é um especial presente que a cidade guarda. Conhecido como o mestre dos sonhos, em 1971, o artista iniciou a reconstrução da velha Cerâmica São João da Várzea, no bairro histórico da Várzea, fundada pelo seu pai em 1917. As ruínas deram espaço a um projeto ousado de escultura de cerâmicas, expostas tanto no espaço interno quanto externo.
“O lugar é de uma magia única que une a arquitetura monumental às obras do artista de cunho abissal, obscuro, sexual e religioso. Com um pouco de sorte é possível encontrá-lo circulando pelo espaço, disposto a um bom papo carregado de paixão por tudo que construiu e o envolve”, recomenda Juliana Pippi.
Entre os artesãos brasileiros mais respeitados, está Manuel Galdino de Freitas, o mestre Galdino. No decorrer de sua vida ele trabalhou como oleiro, mas a notoriedade veio como ceramista, apesar de também possuir habilidade com a viola e poesia de cordel. Em passagem por Alto Moura fez vários amigos que o apresentaram a arte de “bonecos”. A identificação com a técnica foi tanta que por lá ele fincou base, até o último dia de vida, em 1996. “Por carregar a peculiaridade interpretativa que une história, vida e sensibilidade, ele tornou-se um telespectador único e privilegiado, que enxerga e representa a verdadeira essência brasileira”, comenta a arquiteta Ana Paula Ronchi.
Um acervo exclusivo do artista está em exposição no Museu do Barro de Caruaru e o Memorial Mestre Galdino, em Caruaru (PE).
Visitações:
Reserva Técnica: as visitas são agendadas no (81) 3268-1360.
Oficina de Cerâmica de Francisco Brennand: Propriedade Santos Cosme e Damião – Rua Diogo de Vasconcellos, S/N – Várzea, Recife. Aberta ao público de segunda a quinta, das 8h às 17h, sexta:, das 8h às 16h. Sábado e domingo, das 10h às 16h. Mais infos pelo: (081) 3271-2466/3272-5494.
Museus de Caruaru: Espaço Cultural Tancredo Neves/Praça Coronel José de Vasconcelos, 100, Centro. Aberto ao público de terça a sábado, das 8h às 17h e aos domingos das 9h às 13h. Mais infos pelo ( 81) 3721 2545 e http://museusdecaruaru.blogspot.com.br