Abra a cabeça, prepare o paladar: do Marrocos ao Etna, sommelier indica lista inusitada de bons vinhos

Texto de Eduardo Machado Araújo, sommelier e sócio do The Wine Pub

Sempre que produzo uma carta de vinho procuro desafiar os sentidos e a imaginação do cliente colocando vinhos inusitados, diferentes, mas sempre de ótima qualidade. As vezes tirar as pessoas da zona de conforto é a melhor maneira de surpreender e criar uma experiência.

Seria mais fácil fazer a carta de vinhos tradicional. Malbecs, Cabernets, Chardonnays e Sauvignons Blanc, um ou outro rótulos clássico da Itália, Portugal e Espanha e pronto. Temos mais uma carta de vinhos e elas estão em toda parte!

Mas, você já provou um vinho do Marrocos? Muitos nem sabem que se produz vinho por lá, mas eles são produtores desde a época dos Fenícios e seu clima Mediterrâneo e a influência francesa criaram condições para produzir ótimos vinhos.  A uva Syrah, muito comum no sul da França, é um ótimo exemplo e pode ser experimentada no Tandem do Domaine Ouleb Thaleb, que conta com a expertise de um dos melhores produtores de Syrah do Norte do Rhône, Alain Graillot.

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Mas, a uva Syrah ou Shiraz não é nenhuma novidade, então se quiser provar algo que talvez nunca tenha ouvido falar, podemos ir para uma região que está retornando ao foco e se tornando queridinha de sommeliers e produtores pelo mundo. As colinas do vulcão Etna, na Sicília, apresentam condições únicas de terroir aliando altitude, solo vulcânico e clima típico. O resultado é a produção de uma uva fantástica chamada Nerello Mascalese, muitas vezes associada à elegância e complexidade de alguns Borgonhas e Nebbiolos. Notas de frutas vermelhas e ervas frescas, ótima acidez e grande sensação mineral são algumas das notas oferecidas pelos bom exemplares.

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Hoje temos mais de 1360 variedades de uvas catalogadas, infelizmente não poderíamos provar todas numa só vida, mas se formos pros vinhos portugueses podemos acelerar bastante esse processo. Já conhece as uvas Arinto, Bical, Rabo de Ovelha, Baga e Rabigato? Pois é, essas entre outras dezenas são responsáveis pelos únicos e originais vinhos portugueses, que tanto agradam nosso paladar.

Uma das minhas preferidas é a branca Encruzado. Ela se mostra uma grande tela em branco para o enólogo poder trabalhar e apresentar seu vinho. Geralmente com influência de madeira é um branco encorpado, untuoso e com ótimo potencial de guarda. Pra quem gosta de bons Borgonhas brancos é uma ótima opção por uma fração do preço. Quinta dos Roques e Quinta da Falorca são ótimas opções.

Apesar de já bem difundidos e famosos nas rodas “cool” de vinho os vinhos laranja ainda não são muito fáceis de se achar por ai. E eles diferem tanto em estilo e gostos que existe muita discussão sobre a qualidade desses vinhos. Mas, o fato é que quando bem feitos são excelentes acompanhamentos para uma bela refeição.
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Os vinhos laranja ou âmbar são produzidos a partir da maceração das cascas das uvas brancas que conferem uma cor mais intensa que ainda pode ser aumentada por uma oxidação deliberada.

Dois que provei ultimamente e destaco são: Leone di Venezzia Oro Vecchio, um laranja de personalidade e muito aromático feito em São Joaquim, e o Torrontés Brutal da Passionate Wines, projeto criativo de Matias Michellini muito perfumado e na boca com ótima acidez contrastando à textura criada pela maceração.

Poderia citar inúmeros vinhos inusitados, mas vamos começar aos poucos e conhecer algumas dessas opções para entrar no clima e abrir nossa cabeça pra novidades!

Anote as dicas:

1)Tandem do Domaine Ouleb Thaleb, Shiraz marroquinho;
2) Rótulos produzidos nas encostas do Etna com a uva Nerello Mascalese;
3) Quinta dos Roques e Quinta da Falorca, rótulos portugueses produzidos com a uva Encruzado;
4) Leone di Venezzia Oro Vecchi, vinho laranja produzido em São Joaquim;
5) Torrontés Brutal da Passionate Wines, vinho laranja produzido em Mendoza, na Argentina

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Laura Coutinho

Escrito por Laura Coutinho

Laura Coutinho é jornalista com mestrado em Relações Internacionais. Já morou em Porto Alegre, Londres e Lisboa e é apaixonada por viagens, gastronomia, cultura e inovação. Trabalhou mais de 15 anos no Grupo RBS como repórter, editora, colunista e assinou coluna social durante um ano no Jornal Notícias do Dia. Hoje, concilia a produção de conteúdo em site próprio com o trabalho de relações públicas.

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